Na minha terra sou só eu

21-12-2012 23:46


 

Suponho que este deve ser um dos pensamentos que mais me prendeu a uma forma tolhida de ser e de viver.

Cresci a sentir-me diferente, desadequada. A sentir que a minha forma de viver criava em mim vontades diferentes das outras crianças, dos outros adolescentes, sonhos de um futuro que não era partilhado. Eu sentia isso do fundo do meu coração.

Cresci em Oeiras.

Reparo, enquanto vou pondo por ordem a Lista das Mães por Localidade, tantas e tantas mães que se registaram em Oeiras. Éramos tantas afinal.

Vim viver para o Montijo.

Lembrei-me daquela história do velho sábio à entrada de uma vila. Um homem chega cheio de malas. Chega à vila para se instalar e chegando junto do velho pergunta:

- "Boa tarde, ancião. Podes dizer-me como são as pessoas aqui?"

- "Claro! Como eram as pessoas no lugar de onde vieste?"

- "Ah! Era uma gente desgraçada, um bando de malvados, bandidos, e gente em quem não se podia confiar".

- "Pois... aqui é o mesmo, o que havia lá é o que vais encontrar aqui..."

E o homem lá seguiu com a sua carga rumo à vila.

Um pouco depois, outro homem chega à vila. Cheio de malas, de perguntas.

- "Boa Tarde, ancião. Podes dizer-me como são as pessoas aqui?"

- "Claro! Como eram as pessoas no lugar de onde vieste?"

- "Ah! Era tudo gente muito boa, Todos amigos uns dos outros. Tive de vir para cá em trabalho, mas trago saudades de todos."

- "Pois... aqui é o mesmo, o que havia lá é o que vais encontrar aqui.

Cá estamos, quatro mães registadas no Montijo. Liguei ontem à Alexandra. As nossas crianças talvez venham a ter uma importância na vida umas das outras como não prevíamos. A vida dá muita muitas voltas. É muito importante termos uma rede de compreensão empática, de pessoas que sabem na primeira pessoa como é.

Para mim que mudei de terra foi importante perceber que os lugares às vezes podem surpreender-nos, mesmo em face das nossas mais graníticas certezas. As minhas certezas costumam ser graníticas, betumadas e férreas. Mas mesmo assim, as surpresas entram.

Sinto-me sempre demasiado "diferente", pressinto sempre que na minha terra sou só eu. Mas mesmo assim, as supresas entram.